segunda-feira, 27 de abril de 2009

Traumatismos Craneanos

COMO PROTEGER O JOGADOR DE RUGBY DE KO

OS TRAUMATISMOS CRANEANOS SÃO DEVASTADORES

Por: Jean-François Chermann – Neurologista – responsável pela consulta de concussão cerebral e desporto do Hospital Léopold-Bellan – Paris

Raphaël Ibañez, capitão emblemático da Selecção de França e jogador dos London Wasps, anunciou em 16 de Fevereiro que terminaria a sua carreira de jogador aos 36 anos. Vítima de 3 KO’s ao longo do ano, ele reconheceu: “Não vale a pena fazer mais mêllée’s”.

E este caso poderá servir de exemplo? Desde há muito tempo que as instâncias do rugby francês e internacionais compreendem a gravidade das concussões cerebrais e tomam finalmente as medidas adaptadas ao problema. O rugby, desporto reputado pela sua ética atípica e anacrónica, esforça-se por conservar os seus princípios, como testemunha o seguimento regular das características biológicas dos jogadores, instituída em França em 1996 com o intuito de maximizar o espectro do controlo anti-dopagem.

Depois desta época, que corresponde também ao alargamento do profissionalismo, apareceu uma derivação insidiosa: os calendários são cada vez mais carregados, os jogos cada vez mais pesados e com interesses financeiros crescentes. O repouso do jogador lesionado, enquanto salvaguarda e reparador do indivíduo, é visto como inimigo da performance. Tudo é posto em prática para o reduzir ou suprimir.

O problema das concussões cerebrais ilustra bem este problema. Cada traumatismo provoca uma alteração transitória, mais ou menos grave, das funções neurológicas. Assistimos a uma perda de consciência somente em 10% dos casos e este elemento pode não ser considerado significativo. O jogador pode nem ter nenhuma perda de consciência e ter uma autêntica concussão cerebral. O jogador permanece no ambiente de jogo como um autómato. Do jogo, não guarda nenhuma recordação.

À primeira vista tudo está bem. Os exames habituais, TAC ou ressonância magnética dirigidas ao cérebro, nada mostram. O jogador envolvido não apresenta nenhum sinal visível de sofrimento. O primeiro episódio passa rapidamente. O jogador anseia pelo regresso rápida à competição, com o encorajamento do restante staff.

Na realidade, há um verdadeiro sofrimento neural. As anomalias detectadas em punções lombares persistem ao longo de várias semanas, que se notam na fragilização das funções cerebrais e na lentificação do raciocínio.

Em França, as consequências das concussões são cada vez mais devastadoras e isto por uma razão muito simples: a massa muscular dos jogadores não pára de aumentar (em média mais 15 Kg nos últimos 20 anos), se bem que a protecção craneana não sofreu igualmente o mesmo desenvolvimento (também não é extensível). O impacto dos choques é cada vez mais forte, em detrimento do cérebro… E portanto, a atitude actual assemelha-se a uma política de avestruz. O “não vi, logo não considero” permite colocar os jogadores em competição 8 dias mais tarde.

 

Conhecer os riscos envolvidos

 

A IRB de Dublin preconiza uma paragem de 3 semanas, salvo se um neurologista der o seu aval para um retorno mais precoce, em caso de concussão ligeira. Em todas as situações, uma segunda concussão deve ser alvo de uma vigilância extrema.

No adolescente ou no adulto com menos de 20 anos, um novo traumatismo no espaço de alguns dias pode levar a uma situação de morte quase instantânea. Cerca de 20 casos foram já reportados (boxe, futebol americano ou rugby). Pessoalmente, para o neurologista, dos mais de 50 jogadores seguidos (amadores e profissionais), não encontrou um único que não tivesse tido uma concussão cerebral ao longo da sua carreira.

Assim, a teoria segundo a qual o jogador com concussão “estará a 80%” das suas capacidades - seguindo a expressão consagrada - é não só cínica como ilusória. O jogador que retorna cedo demais estará a um nível bastante inferior do seu nível habitual.

Mas o problema mais grave, sob o ponto de vista ético é, afinal de contas, o risco que fazemos o jogador correr em caso de concussões repetidas: a “demência do pugilista”. Pensávamos, desde há muito tempo, que esta doença híbrida do Parkinson e Alzheimer só poderia advir da prática do boxe. Durante mais de 20 anos nos Estados Unidos, a National Football League (NFL) rejeitou os estudos que demonstravam que a prática do futebol americano era susceptível de desencadear a demência. Foram necessários 3 casos mortais de jovens retratados da NFL, ao longo dos últimos 12 meses, para que o debate fosse trazido finalmente para a praça pública nos EUA quanto ao papel das concussões cerebrais de repetição, no aparecimento precoce da doença de Alzheimer.

É imperativo que os jogadores conheçam os riscos que correm. É urgente criar consultas de especialidade para todos os desportistas, com a finalidade de informar os desportistas dos efeitos a curto e a longo prazo das concussões cerebrais. No Hospital Léopold-Bellan em Paris, abriu recentemente esta consulta, integrada no serviço de neurologia. Mas é uma gota de água quando pensamos nos 300 000 praticantes de rugby amadores e profissionais inscritos em França. Não se trata duma fatalidade, podemos melhorar as coisas.

Os médicos responsáveis pelas equipas de rugby devem estar sustentados nas reais consequências e não ceder a pressões como no caso do mundo do futebol. Cabe a eles a decisão do diagnóstico da concussão cerebral e será não só para o bem do jogador mas também para o bem da equipa.

O rugby é um desporto profissional recente e esta é a sua oportunidade. Para que ele mantenha a especificidade e sobretudo a sua ética, tudo deve ser posto à prova. Se constatamos, em 20 anos, uma “epidemia” de problemas cognitivos de jogadores que sofreram concussões cerebrais repetidas, não podemos dizer que não o sabíamos.

In: Recorte de jornal francês (??) disponibilizado por Tomaz Morais e traduzido por José Carlos Rodrigues em 21 de Abril de 2009.

Permitam-me alguns conselhos preventivos:

  • Usar capacete (por incómodo que seja).
  • Jogadores da 1ª linha TÊM de estar bem preparados fisica e técnicamente.
  • Evitar jogar no escalão acima.


3 comentários:

Anónimo disse...

Nem mais!

A caixa craniana, e o seu conteudo, o cérebro, é o bem mais importante que qualquer atleta deve proteger.

Quantos jogadores de rugby em portugal, sofream KO esta época, nos diversos campeonatos?
Nenhum.

Quantos jogadores de rugby portugueses, sofream KO esta época, em jogos internacionais?

algum!

MANUEL CARVALHO disse...

O Manuel Castro Pereira(Cascais-sub18) sofreu um no ùltimo sábado, dia 25/04/2009. Durante estes anos que já levo a dar assistência a jogadores de rugby já vi alguns. Claro que normalmente estas situações não são não são muito divulgadas.

Manuel Carvalho-Dramático de Cascais

old7 disse...

É muito importante falar de assuntos relacionados com a segurança dos jogadores.Parabêns pela iniciativa.
OLD7